
A pressa de Donald Trump em anunciar nesta quarta-feira um acordo entre Israel e Hamastraduzia a relevância do tema para o presidente americano, que almeja fixar definitivamente o rótulo de pacifista ao seu nome.
Com a primeira fase de do plano concluída, Trump caminha para alcançar o trunfo mais importante de sua carreira como chefe de Estado, e ele deve capitalizar o retorno dos reféns vivos com uma visita nos próximos dias a Jerusalém.
As condições para a paz na região ainda são nebulosas, mas o que foi obtido agora é muito significativo e pode ser atribuído ao presidente americano. Por telefone, Trump comemorou a conquista com parentes de reféns sequestrados, ouviu deles elogios à sua atuação para trazê-los de volta, nunca pronunciados a Benjamin Netanyahu.
Ele conseguiu a façanha de empurrar o plano desenhado pelos EUA goela abaixo do primeiro-ministro israelense, obrigando-o inclusive a pedir desculpas ao emir do Catar pelo ataque realizado em Doha no mês passado. Não satisfeito, como uma espécie de punição a Netanyahu, divulgou as fotos da ligação em Washington.
O bombardeio de escritórios do Hamas em território catari foi a gota d’água que fez transbordar a impaciência de Trump com a insistência de Israel em bombardear Gaza. O Catar é um aliado estratégico de seu governo na região, e Netanyahu passou a se posicionar como um obstáculo.
Sob pressão, o premiê não teve outra alternativa ao constatar que segurar-se no presidente americano ainda seria a sua melhor opção. O gabinete israelense se reúne nesta tarde para aprovar a primeira fase do acordo. De antemão, terá a resistência dos ministros da extrema direita, que ameaçam abandonar o governo.
A primeira fase do plano de Trump inclui a devolução de todos os reféns em troca da libertação dos palestinos e um recuo das tropas israelenses. Em sua essência, não difere dos outros acordos de cessar-fogo nos últimos dois anos, que se mostraram ineficazes.
Para o presidente americano, contudo, é bastante representativo, por ter conseguido imprimir nele a sua marca pessoal. E, simbolicamente, foi divulgado às pressas na antevéspera do anúncio do Prêmio Nobel da Paz, ao qual, embora com chances remotas, foi indicado pelo próprio Netanyahu.